segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A eleição municipal no Rio

A onda verde, de Fernando Gabeira, exteriorizou um clamor da sociedade civil: a renovação política.

O mais interessante nisso tudo é que o candidato mais velho (Gabeira, 69 anos) foi justamente o representante desta nova política. Enquanto isso, um dos mais novos (Paes, 39 anos), reproduziu a velha forma de se fazer campanha.

O velho representou o novo; o novo representou o velho.

PV e o PSDB de Gabeira

Não só Gabeira, mas os principais quadros do PV carioca são antigos políticos do RJ: Alfredo Sirkis, 57 anos, e Aspásia Camargo, 65 anos. O primeiro, desde 2001, participa ativamente do governo César Maia, tendo assumido a Secretaria de Meio Ambiente e a de Urbanismo; a segunda, no governo FHC, ocupou a presidência do IPEA e a Secretaria Executiva do Ministério do Meio Ambiente.

Já o PSDB, se dividiu. O grupo tradicional se aliou a Gabeira; o grupo dos novos, a Paes. Luis Paulo Corrêa da Rocha, 63 anos, e Marcello Alencar, 83 anos pertencem àquele grupo.

O primeiro possui extenso curriculum, já foi vice-governador e Secretário de Transportes do governo César Maia. O segundo, governador do Estado do RJ (1995 - 1999).

PMDB e o PSDB de Paes

O PMDB fluminense possui três lideranças centrais: Sérgio Cabral, Jorge Picciani e Anthony Garotinho. Apenas as duas primeiras apoiaram Paes; já Garotinho, um dos maiores opositores do governador Sérgio Cabral, foi, naturalmente, contra o candidato Eduardo Paes.

No caso do PSDB, os políticos da ala jovem, o deputado estadual Pedro Paulo e os vereadores Antônio Guaraná e Patrícia Amorim, votaram e fizeram campanha para Eduardo Paes, tendo sofrido até sanções do partido por isso.

PT e Bloco de Esquerda

O PT e o Bloco de Esquerda (PSB - PDT - PCdoB - PRB - PMN) tiveram um grande desafio pela frente. Ou apoiariam um ex-petista, militante histórico do ambientalismo, que inclusive fez campanha para o Lula em 2002; ou apoiariam um ex-tucano, político novo sem perfil certo, que fez campanha para o Serra em 2002 e foi um dos maiores opositores ao Governo Lula quando deputado federal pelo PSDB.

A tendência natural era o apoio ao primeiro candidato, entretanto, ocorreu o contrário. A aliança de Lula com Cabral, desde 2006, e a aproximação de Gabeira com a ala tradicional do PSDB fizeram com que o PT e o Bloco de Esquerda resolvessem por apoiar Paes. Essa decisão não foi fácil, tão pouco consensual, por exemplo, o candidato a prefeito do PT, Alessandro Molon, se recusou a apoiar oficialmente o candidato do PMDB. Marcelo Crivella, candidato pelo PRB, embora tenha apoiado Paes no 2o turno, não se mobilizou para fazer campanha. A única política representante deste bloco que realmente se empenhou na campanha de Paes foi Jandira Feghali do PCdoB.

Paes também teve que mudar. Estar no PMDB, partido de apoio ao Governo Lula, não foi o suficiente para convencer o PT e o Bloco de Esquerda. Teve ainda que se desculpar por seus "erros" passados e garantir bom espaço para estes partidos de esquerda no novo governo. Mais do que isso, provavelmente, garantiu apoio ao candidato de Lula à presidência em 2010.

Futuro do Partido Verde

Desenvolvimento sustentável e proteção ambiental são palavras chaves pro presente e futuro. O meio ambiente, hoje, não é um tema fechado; ao contrário, influencia, por exemplo, a economia através do mercado de carbono e dos grandes investimentos realizados atualmente (principalmente pela Grã-Bretanha de Gordon Brown) em energias renováveis.

Os partidos verdes são partidos em ascensão em todo o mundo, principalmente na Europa. No entanto, dificilmente estes partidos conseguirão ser os maiores, como são os partidos social-cristãos, os conservadores, os social-democratas ou os socialistas. Na Europa, a média de votos verdes é de 10%. Mesmo não sendo grandes, possuem grande importância, por exemplo, por terem viabilizado a governabilidade do governo social-democrata de Schroeder na Alemanha.

O PV é um partido essencialmente legislativo, no entanto, chave de boa gestão em cidades de pequeno e médio porte, cidades turísticas ou cidades com grande importância cultural ou ambiental.

O PV brasileiro cresceu muito nessas eleições, tendo conseguido assumir até a prefeitura de Natal (RN), com Micarla de Sousa. Ainda deve crescer mais. É um partido bastante dinâmico, com capacidade de fazer alianças bem diferentes. Enquanto se aliou ao PSOL em Porto Alegre; em São Paulo, apoiou o candidato do Democratas.

Ao contrário de outros partidos, como o PR, que realizam alianças bem amplas, no entanto, essencialmente eleitorais e destituídas de programas comuns. O PV tem a capacidade de realizar alianças bem diferentes, tanto eleitorais como programáticas. Possui um programa político bem elaborado, voltado essencialmente para a preservação ambiental, promoção cultural e desenvolvimento da democracia de forma mais ética e direta. No entanto, não possui, definitivamente, nenhum projeto nacional.

No Rio de Janeiro, o PV é um partido de velhos, mas representa o novo e a juventude. Precisa urgentemente de novos políticos, no entanto, acredito que estes terão alguma dificuldade para substituir os políticos tradicionais.

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