terça-feira, 30 de dezembro de 2008

O grande erro de César Maia

Amanhã será o último dia de mandato de César Maia como prefeito do município do Rio de Janeiro. O último dia de uma era que começou em 1o de Janeiro de 1993.

Sem dúvida, o que o Rio é hoje em muito se deve a este político. Construções importantes como a Linha Amarela, o estádio João Havelange e, agora, a Cidade da Música foram realizadas em seu governo.

É difícil de entender como um político que governou o Rio por 12 anos e fez um sucessor, terminou sua carreira política completamente desgastado. Sua candidata à sucessão, Solange Amaral, alcançou uma votação inferior a 5% dos votos válidos.

No início de sua trajetória política, mostrou-se bastante promissor. Tendo começado ao lado de Leonel Brizola, foi Secretário de Fazenda do Governo do Estado. Filiado ao PDT desde 1981, abandona a silga se filia em 1991 ao PMDB, partido de Ulysses Guimarães, e concorre pela primeira vez à prefeitura do Rio. Sai vitorioso.

Começa uma gestão bastante renovadora. Realiza importantes 0bras e grandes investimentos, a educação torna-se uma prioridade.

Contraditoriamente, iniciou sua tragetória política ligado a partidos e grupos claramente de esquerda, ostentando grande aprovação popular. Terminou sua carreira filiado ao Democratas, um partido bastante ligado ao pensamento conservador, e com altos índices de rejeição.

Cito algumas razões dos descaminhos de César Maia:

a) Presidência de Lula em 2003.

Desde 1993, primeiro ano de seu mandato, César Maia pertenceu a partidos aliados ao Governo Federal. De 1993 a 1995, Itamar Franco (PMDB-MG) governou o país. Depois, Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP). Assim, a facilidade na integração das políticas municipais com as federais foi muito maior.

Assim, que Lula assume a Presidência, César Maia se torna oposição pela primeira vez em exatos 10 anos. E, pelo que percebemos, não teve competência para garantir investimentos federais na cidade. Diga-se de passagem, competência esta que Kassab (Dem-SP) está tendo.

b) Realização dos Jogos Pan-Americanos e Construção da Cidade da Música.

A realização dos jogos pan-americanos, sem dúvida, foi excelente para a cidade. Não só recebemos muitos investimentos em todas as esferas, como também geramos milhares de empregos no setor de turismo e construção civil. No entanto, a gestão César Maia se comprometeu exageradamente com a realização dos Jogos. Assim, comprometeu em muito a capacidade de investimentos da Prefeitura.

Estima-se que a Prefeitura tenha hoje cerca de R$ 700 milhões por ano para investimentos e conservação. Deste volume financeiro, grande parte foi retirado de áreas como saúde e urbanização para ser repassada às obras dos Jogos Pan-Americanos.

Outra razão de redução dos investimentos e manutenção da cidade, foi o grande volume de verbas usados na construção da Cidade da Música (cerca de R$ 600 milhões). No início, Maia, acertadamente, decidiu por realizar uma grande obra cultural no Rio. A primeira idéia foi a construção de um dos famosos museus de arte moderna, Guggenheim, na Zona Portuária. Assim, o Rio sediaria o primeiro Museu Guggenheim do Hemisfério Sul. Esta obra estava orçada em cerca R$ 200 milhões e, depois da construção, a Fundação Guggenheim ficaria responsável pela manutenção. O projeto foi barrado na Justiça.

Assim, com os percalços jurídicos, mudaram o projeto original para a construção da Cidade da Música. A diferença está em três pontos: i) O museu seria construído na Zona Portuária justamente numa tentativa de revalorizar esta área do Rio, já a Cidade da Música foi construída na Avenida das Américas, Barra da Tijuca, área que por si só cresce bastante; ii) O museu custaria cerca de um terço do valor da Cidade da Música; iii) A manutenção do museu ficaria nas mãos da Fundação Guggenheim, não seria a máquina estatal que precisaria gastar seus recursos para manter a obra cultural. Ao contrário, com a Cidade da Música, a capacidade de investimentos municipais em áreas que ainda deixam muito a desejar, como saúde e urbanização, será reduzida.

Nenhum comentário: